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Intolerâncias alimentares e supercrescimento bacteriano - como diagnosticar?


Sintomas relacionados ao aparelho digestivo, como náuseas, empachamento, eructações (arrotos), inchaço abdominal, cólicas, flatulência excessiva, diarréia e constipação, podem ser decorrentes de intolerância alimentar ou distúrbios na flora intestinal (supercrescimento bacteriano).

As intolerâncias alimentares mais frequentes são a intolerância a lactose (açúcar presente no leite e derivados) e a frutose (presente em mel, algumas frutas e em muitos alimentos industrializados).

Intolerância à lactose, a frutose e o supercrescimento bacteriano têm em comum a ocorrência da fermentação - quando um alimento não é digerido e absorvido pelo intestino e sim utilizado como substrato de bactérias residentes no intestino. Quando bactérias fermentam carboidratos (açúcares e derivados), é gerado o gás hidrogênio e o gás metano. O hidrogênio é absorvido, vai para a circulação sanguínea e é exalado pelos pulmões. Quando ocorre digestão normal, o gás hidrogênio não é gerado.

A grande quantidade de gases gerada na fermentação pode causar sintomas tais como inchaço abdominal, flatulência, diarreia, cólicas entre outros.

A medida do hidrogênio expirado após a ingestão de carboidratos (lactose, frutose ou lactulose) corresponde a intensidade da fermentação bacteriana intestinal (Figura 1).

Figura 1 – Teste de hidrogênio expirado

Intolerância à lactose


A lactose é o carboidrato (açúcar) predominante no leite e seus derivados. A intolerância à lactose ocorre quando não há correta metabolização e absorção deste açúcar no intestino. Nestes casos, a lactose é fermentada pelas bactérias no intestino grosso ocasionando sintomas como distensão abdominal, cólicas e diarreia. A absorção da lactose depende de uma enzima chamada lactase, que se localiza nas microvilosidades do intestino delgado. Diminuição na concentração de lactase está presente em aproximadamente 30-60% dos adultos brasileiros. Este grande contingente de pessoas pode sofrer sintomas quando ingerir leite.

A lactose e um dissacarídeo, formado por uma molécula de glicose e uma molécula de galactose. O intestino não tem capacidade de absorver dissacarídeos. A lactase realiza a quebra da lactose em glicose e galactose (monossacarídeos) que são absorvidos, vão para a circulação sanguínea e servem como fontes de energia para as nossas células.

Figura 2 – O que ocorre no intestino quando a lactose não é metabolizada

Intolerância a frutose


Frutose é um carboidrato (açúcar) simples, ou seja, um monossacarídeo presente na nossa dieta. Quando a frutose é absorvida de forma incompleta pelo intestino, ela pode fazer um efeito osmótico e também ser fermentada pela microbiota intestinal, resultando na formação de substâncias químicas e gases, causando sintomas, de maneira similar a lactose. A atividade da proteína de transporte que determina a absorção de frutose (GLUT5), é geneticamente determinada e pode ser alterada por inflamação no intestino ou pelo estresse. O limiar de má absorção de frutose varia individualmente e amplamente. Esta forma comum e benigna de intolerância à frutose deve ser distinguida da rara intolerância hereditária à frutose (HFI).

Frutose está presente em frutas, legumes, grãos, alimentos industrializados e mel. A ingestão diária varia de 20g a 60 g, dependendo da dieta. O consumo de frutose tem aumentado significativamente nas últimas décadas e está implicado no aumento da obesidade, síndrome metabólica e doença hepática.

Aproximadamente 30% dos adultos saudáveis apresentam má absorção com doses inferiores a 50 g de frutose e 10% têm sintomas. Não parece haver grandes diferenças raciais.

Até 70% dos pacientes com síndrome do intestino irritável têm intolerância de quantidades normais de frutose. A intolerância à lactose e frutose concomitantes atinge aproximadamente 20% a 30% dos indivíduos da população.

As principais manifestações incluem inchaço e dor abdominal, diarreia e constipação, borborigmos (ruídos intestinais).

A depressão pode ser mais comum em adultos e crianças com má absorção de frutose, e pode melhorar com redução rigorosa dieta na ingestão de frutose. Isto pode ser devido a níveis reduzidos de triptofano no sangue. O zinco e vitaminas do complexo B (ex: ácido fólico) estão diminuídos em parte da população com intolerância à frutose.

O teste respiratório com hidrogênio expirado é muito sensível para o diagnóstico de má absorção e intolerância à frutose.

Supercrescimento bacteriano


A flora intestinal é repleta de bactérias fundamentais para a saúde do organismo. As bactérias nativas da microbiota intestinal não se proliferaram deliberadamente, elas existem em concentrações específicas e em determinadas partes do intestino. Em condições normais, o número de bactérias no intestino delgado é muito inferior ao encontrado no intestino grosso.

O aumento do número de bactérias no intestino delgado geralmente é decorrente de fatores como a redução da motilidade no intestino delgado, diminuição da produção de ácido gástrico (em doenças gástricas ou uso prolongado de medicamentos tipo omeprazol e similares) e cirurgias intestinais.

O aumento de bactérias no intestino delgado pode causar fermentação de carboidratos, competindo com os mecanismos normais de absorção dos mesmos. Além do mais, pode haver má-absorção de outros nutrientes, como proteínas e vitaminas. Os sintomas do supercrescimento bacteriano são similares aos de intolerâncias alimentares: dor abdominal, distensão abdominal, cólicas e diarreia.

O teste de hidrogênio expirado tem sido utilizado com êxito para o diagnóstico do supercrescimento bacteriano.

O que é teste do Hidrogênio expirado


O teste de respiração do Hidrogênio fornece informações sobre a digestão de determinados açúcares ou hidratos de carbono, tais como o açúcar do leite (lactose) ou açúcar de frutas (frutose). O teste também é utilizado após a ingestão de lactulose para detectar um crescimento anormal de bactérias no intestino delgado.

Neste teste, a captação de hidrogênio e medida por meio de um equipamento semelhante a um bafômetro, no qual o paciente realiza sopros. A realização deste teste não necessita de coleta de sangue (portanto não há qualquer tipo de punção com agulhas ou similares). Não há riscos para os pacientes.

Ao chegar a clínica, o paciente vai fazer o primeiro sopro em jejum, e após ingerir o substrato requerido para análise de cada distúrbio:

- Se o teste for para intolerância a LACTOSE, o paciente vai ingerir 25g de lactose diluídos em 250ml de agua. Após isso, serão coletados 06 sopros, a cada 30minutos. O tempo total do teste e de 03horas.

- Se o teste for para intolerância a FRUTOSE, o paciente vai ingerir 25g de frutose diluídos em 250ml de agua. Após isso, serão coletados 06 sopros, a cada 30 minutos. O tempo total do teste e de 03horas.

-Se o teste for para SUPERCRESCIMENTO BACTERIANO, o paciente vai ingerir 10g de Lactulose diluídos em 100ml de agua. Após isso, serão coletados 08sopros, a cada 15minutos. O tempo total do teste e de 02horas.

Fotografia ilustrativa demonstrando captura do hidrogênio expirado. Os bocais utilizados nestes exames são descartáveis, não há risco de transmissão de doenças.